JONATHAN HECKLER/JC
Stortti diz que o modelo adotado exige
áreas com 60 hectares e investimentos de até R$ 300 milhões
As características geográficas do Rio Grande do Sul, como as fronteiras com o Uruguai e a Argentina, além do fato de possuir os três modais em seu território (rodoviário, ferroviário e hidroviário), tornam a região propícia para a operação de plataformas logísticas. Os complexos são zonas delimitadas, no interior das quais se exercem, por diferentes operadores, todas as atividades relativas ao transporte, à logística e à distribuição de mercadorias. Esses agentes podem ser proprietários ou arrendatários dos prédios, equipamentos e instalações (armazéns, áreas de estocagem, oficinas etc).
Uma companhia que percebeu esse potencial foi a M.Stortti – Business Consulting Group. O presidente da empresa, Maurênio Stortti, explica que a consultoria atua como estruturadora e desenvolvedora de plataformas logísticas. As ações vão desde o conceito do empreendimento passando pelas etapas mercadológica, arquitetônica, econômico-financeira, jurídica, de posicionamento estratégico e de modelo de gestão. Em cada projeto, a M.Stortti trabalha vinculada a um empreendedor privado ou com a iniciativa pública.
Para o executivo, nos próximos 10 anos, deverão estar em andamento várias instalações de plataformas logísticas em áreas estratégicas do Rio Grande do Sul. Stortti salienta que, concretizadas essas unidades, o Estado terá um enorme ganho logístico em todos os modais: rodoviário, ferroviário, aéreo e aquaviário.
O empresário cita como exemplo de iniciativas já desencadeadas as plataformas logísticas de Passo Fundo, que é conduzida por um grupo privado, a de São Borja e a de Canoas, que começaram as ações através das prefeituras e que, futuramente, pretendem fazer concessões para que os desenvolvimentos das estruturas sejam feitos a partir de um empreendedor privado.
Em Santa Cruz do Sul, a ideia é de uma parceria entre o poder público e os empresários. “Cada qual tem uma característica, o que a M.Stortti faz é a formatação dos complexos adequada à necessidade da região”, explica.
Um conceito de plataforma, que ultimamente está sendo empregado no Brasil, já é amplamente utilizado na Espanha e na França, servindo de exemplo para as novas iniciativas a serem desenvolvidas no País. São aproveitadas áreas com cerca de 60 hectares, que concentram desde o carregamento e descarregamento de contêineres, espaço para truck centers (postos de gasolina e serviços para caminhões e motoristas), centros de distribuição, atacado e varejo, departamentos de treinamento para logística, serviços, parques tecnológicos e hotéis. Como a plataforma é modular, não é necessário desenvolver todos os empreendimentos ao mesmo tempo.
Os investimentos para implantação de plataformas podem chegar a até R$ 300 milhões quando completas. “Buscam-se parcerias para cada negócio, é um cluster de prestação de serviço e com algum nível industrial de baixo impacto ambiental”, frisa Stortti.
Dois pontos fundamentais para esse tipo de empreendimento são a localização e o terreno, que precisa ser firme e fora da área urbana mais concentrada (para não encarecer a iniciativa e devido ao fluxo de veículos pesados). Stortti comenta que, com a dificuldade cada vez maior dos caminhões entrarem nas grandes cidades, a logística das plataformas será intensa no período da noite. Conforme o empresário, um dos projetos mais adiantados é o de Passo Fundo.
Localização do complexo da região do Planalto facilita a intermodalidade
Empresa de Passo Fundo quer tirar partido das várias opções de acesso para transformar–se em centro de conexão de modais e, junto, aproveitar as potencialidades comerciais que a localização permite. G&G/DIVULGAÇÃO/JC
O local que deve abrigar a plataforma logística no Noroeste de Passo Fundo possui ótimas características para esse tipo de iniciativa. O terreno tem acesso pela rodovia RS-324 e também pela RS-153. Além disso, está situado próximo ao trevo de acesso da estrada BR-285. A multimodalidade pode ser explorada na área, tendo em vista a possibilidade de conexão do empreendimento com a ferrovia que passa próxima dali. Há ainda o aeroporto Lauro Kurtz localizado a apenas a oito quilômetros de distância.
“Estamos em negociação com algumas empresas operadoras logísticas, comerciais, hoteleiras entre outras e entramos agora em fase de licenciamentos, contando com apoio da prefeitura municipal”, comenta o administrador da incorporadora G&G Participações, Augusto Ghion Jr, que é o empresário que está desencadeando a iniciativa. O executivo informa que o terreno está pronto para iniciar a terraplenagem em janeiro de 2015.
O empreendimento, que será implantado em um terreno de 44 hectares, aguarda ainda que a prefeitura conceda a autorização para alterar o zoneamento, mudando os índices (para utilizar uma maior parte da área) e os usos do espaço, adequando-os para os fins logístico, comercial e industrial. Ghion adquiriu a área pensando no seu potencial logístico. O dirigente estima em R$ 18 milhões o aporte necessário para concretizar a plataforma. O complexo terá característica de utilização mista, com a frente comercial, com possibilidade construção de postos de combustíveis e hotéis, centros de distribuição e um operador de contêineres.
O empresário comenta que estudos, como o econômico e o arquitetônico da área, já estão prontos. Além disso, foram removidos eucaliptos que se encontravam sobre o terreno, e a compensação ambiental, com o plantio de novas árvores, já foi realizada. Ghion informa que o projeto da plataforma está sendo desenvolvido há aproximadamente seis meses. O dirigente ressalta que o início da operação dependerá da emissão das licenças, entretanto a estimativa é de que isso ocorra em dois anos.
A plataforma de Passo Fundo é um investimento da iniciativa privada e, por enquanto, o empresário está desenvolvendo sozinho todas as ações, como a criação de uma sociedade de propósito específico (SPE). Conforme Ghion, entre as opções financeiras para a viabilização do empreendimento está a possibilidade de um fundo de investimentos para captar recursos, fazer a atração de outros parceiros privados ou ele próprio poderá antecipar o investimento e depois emitir um Certificado de Recebível Imobiliário (CRI) para recuperar o valor empregado. Porém, o empresário reforça que essa questão será definida apenas em um segundo momento. A plataforma terá como vizinhas empresas como a Ambev, a Manitowoc, a Italac, além do distrito industrial de Passo Fundo. Essas companhias serão as naturais clientes do complexo logístico em implatação.
Empreendedores do setor defendem a criação de um Fundopem Logístico
O Fundopem (Fundo Operação Empresa do Estado do Rio Grande do Sul) é um conhecido mecanismo do governo gaúcho que, através de incentivos fiscais, permite a atração e a consolidação de empreendimentos no Estado. Para aquecer o segmento logístico, os agentes do setor defendem que seja implementada uma ferramenta similar específica para esse campo de atividade.
Maurênio Stortti revela que já conversou com o deputado estadual José Sperotto (PTB) e com o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Gilmar Sossella (PDT), sobre a necessidade de criar um Fundopem Logístico para incentivar, principalmente em regiões deprimidas, a atração de empresas que queiram investir nesse setor. A meta também é formatar uma lei estadual que estimule a materialização de cluster logísticos. O empresário espera que a discussão sobre o assunto continue em 2015. Com uma legislação definida, Stortti enfatiza que seria facilitada a abertura de linhas de financiamento do Brde, do Badesul e do Bndes para o segmento.
O diretor de Infraestrutura e Energia da Agência Gaúcha de Desenvolvimento e Promoção do Investimento (AGDI), Marco Franceschi, é outro defensor da ideia da criação de um Fundopem para o setor logístico no Estado. O dirigente considera o Rio Grande do Sul como um estado vocacionado para a implantação de plataformas logísticas. Ele fundamenta a opinião enfatizando que a região possui uma produção primária e industrial muito grande. “E a plataforma concentra e organiza as cargas, conseguindo distribuir de uma maneira mais fácil”, explica Franceschi. Essa situação permite a redução dos custos com o transporte.
Para o integrante da AGDI, um empreendimento dessa natureza, para ser bem-sucedido, precisa possuir uma grande capacidade de armazenamento de cargas, vasta quantidade de serviços (para permitir que a escala torne o processo mais barato) e um eficiente sistema de controle de acesso. Franceschi aponta as regiões Metropolitana de Porto Alegre, Passo Fundo, Caxias do Sul, Ijuí, Pelotas e Rio Grande como áreas com bom potencial para receber projetos dessa natureza. O dirigente considera que o ideal, hoje, é que complexos como esse sejam desenvolvidos pela iniciativa privada. “O Estado é muito engessado, não tem a agilidade necessária para esse processo”, comenta.
Santa Cruz do Sul valoriza a posição geográfica da cidade
Para Cechinato, o município apresenta a vantagem de ser equidistante da Capital, de Caxias do Sul e de Santa Maria. PREFEITURA SANTA CRUZ DO SUL/DIVULGAÇÃO/JC
A prefeitura de Santa Cruz do Sul tem convicção quanto ao potencial logístico da cidade, enfatiza o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Turismo, Ciência e Tecnologia, César Antônio Cechinato. O dirigente recorda que a cidade fica localizada de maneira equidistante dos principais centros populacionais e econômicos do Rio Grande do Sul, estando a 154 quilômetros da Capital, 165 quilômetros de Caxias do Sul e 140 quilômetros de Santa Maria.
“Além disso, o próprio Vale do Rio Pardo é um importante polo exportador, em função do tabaco e de outras indústrias, e há uma quantidade respeitável de empresas importadoras”, destaca Cechinato. Ele acrescenta que o município está praticamente no meio do caminho entre o porto do Rio Grande e as regiões produtoras de soja, frango e leite.
Para o secretário, a cidade tem áreas planas e disponíveis para a implantação de uma plataforma logística e para expansão industrial. Ele acrescenta que Santa Cruz do Sul possui um distrito industrial muito bem estruturado e localizado, com condições de expandir e desenvolver uma plataforma logística. Além disso, lembra Cechinato, o município possui instrumentos de incentivos que possibilitam a atração de investimentos e a estruturação de Parcerias Público-Privadas (PPPs).
O secretário explica que a contratação da M.Stortti, ocorrida recentemente, foi feita através de uma iniciativa conjunta entre a associação das entidades empresariais (com o movimento Santa Cruz Novos Rumos) e a prefeitura. “O objetivo é tornar Santa Cruz do Sul um grande centro logístico do Sul do Brasil”, reitera. Agora, a expectativa é atrair empreendedores interessados nessa oportunidade.
Entre potenciais usuários do serviço de transporte, Cechinato recorda que a empresa da área de medicamentos Genésio A. Mendes (GAM) escolheu Santa Cruz do Sul para instalar uma unidade do grupo, justamente pelas características logísticas da região. “Cada vez mais companhias de distribuição de vários produtos têm procurado o município para implementar a sua operação”, comemora o dirigente.
Fonte: http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=182859